O Tribunal do Júri de Niterói condenou, na manhã desta quarta-feira (24), dois filhos da ex-deputada federal Flordelis dos Santos Souza por envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo. O marido da ex-parlamentar foi morto a tiros em junho de 2019, e Flordelis é acusada de ser a mandante do crime.
O filho biológico Flávio dos Santos Rodrigues foi condenado a 33 anos, 2 meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado por homicídio triplamente qualificado consumado, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada. Rodrigues foi denunciado como autor dos disparos de arma de fogo que provocaram a morte do pastor.
Na mesma sessão, Lucas Cezar dos Santos de Souza, filho adotivo de Flordelis, foi condenado por homicídio triplamente qualificado a sete anos e seis meses de prisão em regime inicialmente fechado. Ele foi acusado de ter sido o responsável por adquirir a arma usada no assassinato do pastor.
O julgamento, presidido pela juíza Nearis dos Santos de Carvalho Arce, titular da 3ª Vara Criminal de Niterói, teve mais de 15 horas de duração. A sessão começou por volta das 14h da terça-feira (23) e terminou em torno das 5h30 desta quarta-feira.
Após a leitura das denúncias contra os réus, a juíza Nearis dos Santos de Carvalho Arce deu início ao depoimento das testemunhas.
A primeira testemunha a depor foi a delegada Bárbara Bueno. Ela disse que a investigação mostrou que, antes das eleições da ex-deputada, havia tentativas de assassinar o pastor, por envenenamento. "Ele passou por diversos atendimentos médicos e chegou a ser internado no hospital. Aqueles que estão ligados a esse homicídio são os familiares mais próximos a Flordelis. São pessoas muito vulneráveis, que tinham relação de dependência em relação a ela e desentendimentos com a vítima."
Depois, o delegado Alan Duarte prestou depoimento. "A partir de conversas extraídas dos celulares, podemos afirmar que se trata de uma organização criminal familiar. Flordelis manipulou, mentiu e ocultou provas. Havia um racha na família, com diferença de tratamento entre filhos biológicos e adotivos. O pastor comandava a família de forma rígida e geria a parte financeira, o que gerava descontentamento nos ligados a Flordelis."
O filho afetivo de Flordelis Wagner Pimenta, o Misael, foi a terceira testemunha. Ele contou que foi adotado aos 12 anos e que morou por mais de 30 anos na casa da família. Segundo ele, após a morte do pastor, Flordelis teria escrito em um caderno que havia quebrado o celular de Anderson e jogado da Ponte Rio-Niterói. A ex-deputada desconfiava que havia escuta policial na casa, e por isso teria se comunicado por escrito.
Luana Pimenta, mulher de Wagner, afirmou que o pastor Anderson era defensor de Flordelis. De acordo com ela, o pastor "jamais acreditaria" nas atitudes da ex-deputada.
A quinta testemunha a prestar depoimento, Roberta dos Santos, filha adotiva de Flordelis, admitiu ser autora de mensagem enviada no grupo de WhatsApp da família em que pede por justiça pela morte de Anderson. Ela disse que foi adotada aos 3 meses e que, quando criança, tinha medo de Flávio por considerá-lo agressivo.
Após um intervalo, a fase de depoimentos foi retomada, quando foram ouvidas mais duas testemunhas de acusação, o filho adotivo de Flordelis Alexander Felipe Marques Mendes e o motorista de aplicativo Daniel Pereira, que levou Lucas e Flávio à comunidade de Nova Holanda para a compra da arma utilizada no homicídio.
A última testemunha a depor foi Regiane Ramos, ex-patroa de Lucas. Ela foi a única testemunha ouvida pela defesa de Lucas. As demais testemunhas de defesa foram dispensadas pelos advogados dos réus.