Armas de destruição em massa vão além das nucleares; entenda os riscos envolvidos em conflito na Ucrânia
Enquanto os russos procuram evitar que armas e munições do ocidente cheguem aos ucranianos, autoridades mundiais fazem alertas contra a utilização de um arsenal cada vez mais perigoso pelo exército de Vladimir Putin.
À medida que o combate contra um inimigo tido como inferior se alonga, o mundo se pergunta o que os russos ainda podem fazer.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou para o risco de uma guerra nuclear na Europa: "O alerta das forças nucleares russas é de arrepiar os ossos e a perspectiva de um conflito nuclear, antes impensável, agora está de volta ao reino das possibilidades".
Bombas termobáricas
Imagem ilustrativa de um TOS-1A lançando bomba termobárica — Foto: Divulgação/Rosoboronexport
Nos últimos dias o mundo tem olhado com atenção o uso de armas cada vez mais perigosas. Na semana passada o ministério da defesa do Reino Unido acusou a Rússia de usar as chamadas bombas termobáricas na Ucrânia, uma arma com potencial destrutivo impressionante.
“Bombas termobáricas são bombas de uma eficiência energética muito boa, usa um alto explosivo. Gera um vácuo muito grande, além de um calor muito grande", explica Willy Hauffe, especialista da Associação Nacional dos Peritos. "O vácuo geralmente é para colapso de estruturas. E o calor justamente para queimar tudo em volta e até queimar pessoas”, disse.
Essas armas não são tidas como ilegais, mas o uso é extremamente regulado.
Bombas de fragmentação
Restos de uma bomba de fragmentação não detonada no território ucraniano, em outubro de 2014 — Foto: Oleg Solvang/ Human Rights Watch
Outro alerta partiu do escritório de direitos humanos da ONU, que disse ter relatos confiáveis de que foram usadas bombas de fragmentação em áreas povoadas da Ucrânia. Essa arma funciona como uma caixa que explode no ar, dispersando até centenas de bombas menores.
Bombardeio indiscriminado sobre áreas civis é considerado crime de guerra.
“Qualquer atividade bélica em um conflito armado implica em distinguir entre civis e militares. O direito internacional humanitário visa justamente preservar aquele mais frágil nesse conflito”, explica Cristian Wittmann, membro da Campanha Internacional de Abolição de Armas Nucleares.
Armas de destruição em massa
Destruição da cidade de Hiroshima, no Japão, pela bomba atômica durante a 2ª Guerra — Foto: Arquivo Nacional dos EUA
A troca de acusações entre russos e americanos sobre o uso e o desenvolvimento de armas químicas e a permanente ameaça nuclear traz à tona a questão das armas de destruição em massa.
Existem basicamente 3 grandes categorias:
- Armas químicas: envolvem o uso de alguma toxina que afeta o corpo humano
- Armas biológicas: utilizam patógenos vivos (vírus, bactérias) que infectam as pessoas e causam alguma doença
- Armas nucleares: a explosão vem de uma reação nuclear
“[As armas nucleares] são as armas de destruição em massa mais potentes que existem na humanidade. Estão realmente numa escala muito diferente”, diz Raquel Gontijo, professora de Relações Internacionais da PUC Minas.
Os especialistas ouvidos nessa reportagem afirmam que já é possível fazer muito estrago com o uso de armamentos convencionais e que as armas de destruição em massa seriam uma escolha improvável.
Ela seria uma forma de provocar terror na população ucraniana e forçar uma rendição imediata. As consequências de um ato como esse, ainda segundo os especialistas, seriam devastadoras.
“É possível que a Rússia tome a decisão de usar armas nucleares nessa guerra? Possível é, mas não é provável. Poderia levar a uma escalada nuclear que é um cenário que ninguém quer. O uso de armas nucleares coloca o risco de uma guerra nuclear que afeta diretamente todo o hemisfério norte, com consequências devastadoras para o mundo inteiro", analisa Raquel Gontijo.
Crimes de guerra
Os ataques a alvos civis têm provocado debate sobre possíveis crimes de guerra cometidos, mas as discussões sobre as condenações da Rússia ainda são incertas porque muitos tratados internacionais não foram assinados por Moscou.
O parâmetro dos limites de uma guerra é o direito internacional e as principais ferramentas são as convenções de Genebra. A primeira delas foi adotada em 1864, por causa do aumento do poder de destruição das armas.
“Não é coincidência que nesta época surgiu a metralhadora gatling, que pode disparar várias rodadas de tiros e causar sofrimento humano significativo”, explica o diretor do centro de direito da universidade de Hong Kong, Gregory Gordon.
Quatro tratados foram adotados prevendo a proteção de instalações hospitalares, doentes, feridos e todos os civis.
Alexandre Danielle, veterano de guerra dos Estados Unidos, disse que os soldados são treinados para evitar os crimes de guerra. Ele atuou no Afeganistão em 2010 e 2011 como fuzileiro naval.
“São aulas teóricas. Os soldados da maioria dos países têm essas aulas. O exército russo, por ser tão forte, com certeza sabem as leis de uma guerra e eles não estão cumprindo. O foco de um tratado de crime de guerra é para que a população não sofra”, conta Alexandre Danielle.
A ONU disse que recebeu relatórios confiáveis sobre o uso de bombas de fragmentação pelas forças russas, inclusive em áreas povoadas.
O Tribunal Penal Internacional já começou uma investigação sobre as denúncias de que as forças russas estariam cometendo violações.
As convenções de Genebra de 1949 foram ratificadas por todos os países integrantes das Nações Unidas, mas outros protocolos e tratados do direito humanitário internacional, não.
Por isso, o resultado de um eventual julgamento e as consequências das denúncias contra a Rússia, por exemplo, ainda são incertos. A própria definição do que será considerado crime de guerra vai depender de investigações e interpretações da lei.
O professor Gregory Gordon disse que a investigação na Ucrânia vai ser complexa porque não envolve apenas crimes de guerra, mas também crimes contra a humanidade, como genocídio.
Segundo as Nações Unidas, são considerados crimes de guerra grandes violações das convenções de Genebra e uso de métodos de guerra proibidos, como atacar intencionalmente a população civil, escolas, igrejas, monumentos históricos ou hospitais.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a Ucrânia está sendo dizimada aos olhos do mundo e que é crucial respeitar o direito humanitário internacional.
“O impacto nos civis está chegando a proporções terríveis”, disse Guterres.
Ele lembrou que pessoas inocentes, incluindo mulheres e crianças, estão sendo assassinadas e alertou que, não importa o resultado dessa guerra, não tem vencedores, somente perdedores.
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